Os perigos dessa vida entre trânsito e poluição

Publicado por: Editor Feed News
21/11/2013 23:04:45
Exibições: 2,070

 

 

AMÉRICO TÂNGARI JR. (*)

Basta ligar o motor pela manhã, sair de casa e parar logo no primeiro congestionamento para colocar a saúde em risco. Ou seja, o cidadão mal acordou e já se encontra bem no meio do mapa do inferno, esse lugar que as grandes cidades nos reservaram em virtude da explosão demográfica e da falta de planejamento urbano.

Só esta parte da história já faz muito mal à saúde, pois a confusão no trânsito provoca ansiedade e sustos além da conta, o que pode levar a um enfarte. Infelizmente, o quadro é um pouco pior. Enquanto parados nos engarrafamentos, os carros vão expelindo monóxido de carbono, que se mistura a outros gases para formar a imensa poluição na qual estamos submersos. Pois é, além da ansiedade, poluição também pode matar.

Confira esses dados: quando os níveis de poluentes atmosféricos ultrapassam os limites aceitáveis, os hospitais se entopem de pacientes com queixas de tontura, dor de cabeça e dor no peito – alguns dos sinais de pressão alta.

Várias pesquisas em todo o mundo mostram essa relação entre níveis altos de poluição e o atendimento médico a hipertensos. Em alguns casos, a procura por hospitais chega a triplicar quando a poluição é muito intensa – e, no caso de São Paulo, quase sempre. Suspensos no ar, monóxido de carbono e dióxidos de enxofre e de nitrogênio são liberados pelos veículos.

Diluídos na corrente sanguínea, esses gases podem irritar nossas artérias, fazendo o endotélio (revestimento interno dos vasos) liberar altas doses de endotelina, um potente vasoconstritor. Eis aí a pressão alta. Um estudo da USP mostrou que o número de mortes por enfarte e derrame cresce 15% nos dias mais críticos de poluição.

Outro estudo, este europeu, também mostrou que o coração e os pulmões estão sujeitos a um risco maior quando expostos à sujeira do ar causada pelos veículos. Foram analisas 4.814 pessoas, com idade média de 60 anos, que viviam próximos a vias de tráfego intenso na cidade. Foi medida o nível de aterosclerose (o acúmulo de placas de colesterol nas artérias), usando como marcador a calcificação da artéria aorta torácica, através de tomografias computadorizadas. E quanto mais próximo dessas grandes vias, maior era a elevação nessa calcificação.

À medida que as pesquisas avançam, mais ficam evidentes esses males do ar sujo para o coração e os pulmões, segundo os resultados de outros estudos, apresentados num congresso de cardiologia nos Estados Unidos:

 

Descobriu-se em seis cidades americanas que pessoas morrem mais cedo quando vivem em cidades com níveis de poluição mais altos. A maioria dessas mortes foi devido a ataque cardíaco.
Em 250 áreas metropolitanas no mundo, a conclusão é de que, a um pico na poluição do ar, segue-se um pico de ataques cardíacos.
Um estudo na cidade de Salt Lake descobriu que, quando uma usina de aço foi fechada por um alguns meses, houve uma redução de 4% a 6% na mortalidade. O índice voltou aos níveis anteriores quando a usina foi reaberta.

Voltemos ao nosso congestionamento. Não há no horizonte nenhuma notícia de que o poder público oferecerá à população um transporte coletivo de boa qualidade. A rede de metrô é mínima, os ônibus são poucos e desconfortáveis, os trens não resolvem. Logo, esse mar de carro tende a ficar maior, pois a venda de veículos é estimulada pelo governo.

Se vale a sugestão, melhor fugir para mais perto da vida.

Imagens de notícias

Tags:

Compartilhar